APRESENTAÇÃO
O
sistema midiático pode ser definido como o aparato ideológico global. Em certa medida esse sistema nos induz a
aceitar essa globalização e insere, no disco rígido do nosso cérebro, o aparato
midiático em todo seu conjunto, “quer dizer, o que a imprensa diz a televisão
repete, a rádio repete, e não apenas nos noticiários, ma também nas ficções, na
representação e um tipo de modelo de vida que se quer apresentar (RAMONET,
2003, p. 243).
Até
que ponto nos envolvemos com essa representação e se ela é benéfica,veremos
nesse trabalho.
MÍDIA
E FICCÇÃO – ATÉ ONDE IREMOS?
Pode-se pensar que a sociedade em que vivemos hoje é algo
atual e sem precedentes. Mas quase tão antiga quanto a própria história é a
necessidade do homem de comunicar-se desenvolver essa sua habilidade. “A
sociedade contemporânea sempre esteve apoiada em redes de comunicação para
intercâmbio de pessoas, bens, capitais, informações e ideias” (COSTA, 2002,
p.53)
A vertiginosa invenção e o rápido desenvolvimento das
tecnologias comunicacionais como o rádio, o cinema e a televisão vão, aos
poucos, transformando o mundo e a maneira que nele se vive, as pessoas e o modo
de viver sua cultura, acompanhando sempre o contexto histórico-cultural em
vigência. A migração de populações por todo o globo, a indústria cultural
mundializada e a emergência de uma sociedade baseada, principalmente, na imagem
são bons exemplos da súbita ruptura nos limites da cultura. O contato direto
com pessoas de culturas de outros lugares do mundo e a presença cada vez mais
forte no cotidiano das pessoas resulta no processo de transculturação, “uma
forma imprecisa e indecisa, evidente e presente, na qual se expressam
instituições e ideias, modos de ser, agir e sentir, pensar e imaginar próprios
de um horizonte mundial.” (IANNI apud
COSTA, 2002, p.58).
No interior desse processo, a narrativa ficcional vai
atuar de forma decisiva permitindo ao homem elaborar identidades e alteridades,
diversidades e desigualdades. Processo esse que o envolverá cada vez mais com o
poder das ficções produzidas pelas mídias, sendo seus pioneiros os folhetins.
Os folhetins se pautavam em narrativas populares e eram adaptadas aos veículos
de comunicação de massa, passando assim a ditar modas de comportamento. Tão
grande era o envolvimento do público com a ficção que este se inseria no
cotidiano daquele, ultrapassando os limites do texto e despertando seu lado voyerista através de cenas descritivas e
elementos tirados da vida real. O furor dos folhetins alcançou altas proporções
com a invenção da fotografia. Seu sucesso estava na semelhança com pessoas e
lugares reais, transportando o público para aquela dimensão ficcional, onde a
vida dos personagens retratados é mais comovente e empolgante. O êxtase dessa relação
explode em um turbilhão de sentimentos com a criação de uma “máquina” de
produzir sonhos e gerar mitos e paixões: o cinema, que revoluciona e estreita
ainda mais a relação homem-ficção. Em um país de maioria analfabeta, como o
Brasil, esse êxtase é compreensível, visto que a imagem associada ao áudio
atinge mais espectadores.
À eterna pergunta: a vida imita a arte? Apropria base do
cinema vai responder. Em seu início, o cinema busca nos espetáculos populares a
sua inspiração. Temos, portanto, a arte imitando a vida e o cinema exercendo um
forte poder de persuasão no imaginário das pessoas, sendo um refúgio de seus
problemas e frustrações. Poder esse que não era exclusivamente seu. O rádio
também já estava incluso nesse contexto. Invadindo lares – mesmo com permissão
– criando uma relação diária com o ouvinte, estabelecendo uma grade horária e
trabalhando os sentidos. O rádio foi e é uma das mídias mais próximas e
utilizadas pela massa, por que atingia alfabetizados e analfabetos – o que era
impossível com os folhetins.
A invenção da TV se torna o marco da comunicação de
massa. Criando novas formas de interação capaz de diminuir as distâncias ente
idiomas e classes sociais e mudando a forma de relacionamentos entre as pessoas
que se envolvem emocionalmente com as telenovelas e perdem o contato uma com as
outras, valorizando o sentir analógico – os lugares, os hábitos, as alegrias e
tristezas – em detrimento do sentir emocional – convívio, conversas, abraços –
aproximando pessoas de todo o mundo e separando amigos e vizinhos. “Até mesmo
nos espaços de maior familiaridade, a afetividade e as relações humanas recaem
no esquecimento”. (GUIMARÃES, 2002, p. 125). As pessoas não vão mais à praça ou
às janelas para conversarem, a vida do vizinho já não importa tanto e a sua
própria vida envolve-se no enredo apresentado pelas mídias analógicas sendo
também, sutilmente, influenciadas por elas.
Em entrevista concedida
à Revista Época, do mês de fevereiro de 2009, o economista peruano do Banco
Interamericano de desenvolvimento (BID), Alberto Chong, discorre sobre estudos
recentes do BID acerca de como as telenovelas moldaram o Brasil, ajudando o
país a criar famílias menores e aceitar o divórcio.
As
pesquisas coordenadas pelo economista analisaram o conteúdo de 115 novelas,
principalmente, da TV Globo, entre 1965 e 1999, nos horários de 19 e 20 horas.
Nessa amostragem, 62% das personagens femininas não tinham filhos e 26% delas
eram infiéis aos seus parceiros – o que suavizou o tabu do adultério. (REVISTA
ÉPOCA, 2009, p. 98)
Segundo dados do IBGE,
casos de divórcio aumentaram drasticamente nos últimos trinta anos (ÉPOCA,
2009). Em suas pesquisas, Chong notou que, durante esse período, por ser a
novela uma das maiores atrações da TV brasileira “quando sua protagonista era
divorciada ou não-casada, a taxa de divórcio aumentava 0,1 percentual.” Esse é
um bom exemplo do quanto a sociedade e suscetível à mídia e envolvida por ela.
Diante desse cenário, as instituições
religiosas começaram a valer-se da mídia ao seu favor para que a religião não
morresse à margem da globalização. Seguindo a tipologia de organização de Katz
e Kahn (1978 apud Kunsch, 2003) A
igreja é uma organização religiosa de manutenção da sociedade. E como ela
desenvolve essa manutenção? Cultivando valores que são, a todo instante,
bombardeados pelos veículos comunicacionais. O pensamento moderno de Berhan
Marshall (1986, p.109) de “tudo que é sólido se desmancha no ar”, é sempre
lançado na mídia, estabelecendo novas formas de comportamento humano e relacionamento
conjugal:
Homens
e mulheres modernos precisam aprender a aspirar à mudança: não apenas estar
aptos a mudanças em sua vida pessoal e social, mas ir efetivamente em busca
delas, procurá-las de maneira ativa, levando-as adiante. Precisam aprender a
não lamentar com muita nostalgia as “relações fixas, imobilizadas” de um
passado real ou de fantasia, mas se deliciar na mobilidade, a se empenhar na
renovação, a olhar sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas
condições de vida e em suas relações com outros seres humanos.
Essa
linha de pensamento é amplamente difundida pelas mídias analógicas como a
televisão – através das novelas – e patrocinada pelas mídias digitais –
permitida pela inúmeras salas de bate-papo.
Em seu trabalho de
manutenção a igreja Adventista utiliza de todos os meios de comunicação para a
evangelização. Ela possui revistas impressas, concessão de canal de televisão e
rádio, chamada rede Novo Tempo, páginas na internet como sites, twitter,
facebook, blogs oficiais e canais no youtube. A Rede Novo Tempo de Comunicação,
foi inaugurada em 1996, na cidade de Nova Friburgo, RJ. Formada pela TV, rádio,
em português e espanhol, e os Ministérios de A Voz da profecia e Está Escrito.
Ambos os ministérios são projetos de evangelização para o rádio no início da
Segunda Guerra Mundial, em 1939, na Califórnia. (www.novotempo.com).
Como
vimos, não há um limite para o desenvolvimento das mídias e de suas ficções.
Através de seus meios de comunicação, a igreja demonstra que não há mesmo um
limite para o seu “Ide e Pregai”. Mt: 28.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Somos envolvidos a todo o momento
pelo que a mídia impõe. Uns envolvem-se mais com suas representações outros
menos, mas somos todos seduzidos por suas imagens, cenários e sentimentos e, muitas
vezes, envolvemos a história de nossas vidas aos enredos que nos são
apresentados. Esse trabalho se propôs analisar como o surgimento da mídia
analógica mudou comportamentos e transformou relacionamentos e como a igreja,
em contrapartida, aprendeu a usar esse mesmos recursos ao seu favor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A
BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em português por João ferreira de Almeida. Revista e
atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1988.
COSTA,
Cristina. Ficção, Comunicação e Mídia. –
São Paulo: Editora Senac, 2002.
GUIMARÃES,
Belarmino César. Estética da violência:
Jornalismo e produção de sentidos. – Campinas, SP: Editora Unimep, 2002.
MARSHALL,
Berhan. Tudo que é sólido se desmancha
no ar. A aventura da modernidade. São
Paulo: Companhia das \Letras, 1986.
RAMONET,
Ignácio. O poder midiático. In: Moraes, Denis de. Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro. Record, 2003.
REVISTA
ÉPOCA. Maconha: por que é preciso
debater a legalização do uso de drogas. 561ª Ed. Editora Globo. Fevereiro,
2009.
KATZ,
Daniel e KAHN, Robert L. Psicologia social das organizações. In: KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de Relações Públicas na
Comunicação Integrada. – Ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo: Summus, 2003.
www.redenovoempo.com acessado em 15 de
setembro de 2013.